Ideologias ou projetos políticos não elegem ninguém há muito tempo.
Dinheiro elege. Não o dinheiro das campanhas. Ninguém mais liga para campanhas caras, coisa do passado, para quem domina as redes. O dinheiro que elege é o sucesso financeiro dos candidatos.
Agora o que conta é a exuberância financeira.
Ou alguém é mais exuberante do que Trump, Musk, Bezos, Zuckerberg e por aqui, hmmm…Pablo Marçal?
Por “exuberante” leia-se: gente grosseira, de mau gosto e com dinheiro para gastar aos bilhões relógios de marca e outras inseguranças.
Foi essa idolatria ao sucesso financeiro que elegeu Trump.
O novo presidente é o estereótipo de um oligarca russo, desses de filme B de espionagem, cercado de capangas. E nessa nova ordem, seus capangas são os três homens mais ricos do mundo, circulando o presidente como abutres atrás da carniça que ele já começa a produzir.
E isso considerando o fato de que a fortuna de cada um deles, garante que podem gastar, em média, um milhão de dólares por dia pelos próximos 170 anos. Pense nisso.
O fato é que os quatro estão colocando em prática um complô apocalíptico, que o mundo inteiro sabe no que vai dar, mas não pode impedir. A ignorância média americana, em troca de fazer a América grande de novo, seja lá o que isso queira dizer, garantiu aos quatro o salvo conduto que precisavam para fagocitar dinheiro exponencialmente.
Trump cria constantemente um tsunami de controvérsias que vai de tentativas de alterar a Constituição numa canetada a entregar a Musk a chave dos mais constrangedores segredos da nação.
Toda essa desumanidade foi graficamente explícita quando um dos seus milionários de estimação bateu no peito, grunhiu e esticou o braço no gesto nazista, não uma, mas duas vezes. Seus iguais se apressaram para explicar que não é bem assim aquilo que todo mundo sabe que é bem assim.
Desprovido de qualquer sentimento, com um comportamento que muitas vezes lembra o de um psicopata, Musk é contra tudo que apela ao bom senso. Sentadinho no colo do presidente, ou pulando desajeitado, sem coordenação motora, o sujeito vai se assegurar que aquecimento global, diversidade, racismo sejam preocupações, oficialmente, banidas do discurso oficial.
A mais lamentável conquista dessa eleição é que a narrativa, agora, é propriedade deles e para eles.
O que nos leva ao outro amiguinho.
Aquele que permitimos que, sozinho, tivesse o poder de controlar o que mais de cinco bilhões de humanos podem ou não falar. Cinco bilhões, sim. Dois bilhões e pouco no Instagram mais três bilhões e uns quebrados no Facebook e nem contei o Whatsapp.
É ele quem decide o que pode e o que não pode ser dito.
Acabou com o que chamou “censura”, o que na verdade era a curadoria que minimizava fake news. Essa bobagem de que se tratava de “censura” foi comprada por toda a direita ignorante, de lá e de cá porque foi bem vendidinha com infinita repetição do discurso. Quando ele anunciou o liberou geral, a farsa já estava vendida. Agora podemos mentir, caluniar, insultar, desfiar preconceitos, que está tudo certo.
Fale verdade, fale mentira, mas fale nas plataformas dele. E quanto mais o povo fala, mais polarizado fica o mundo e, consequentemente, mais o povo fala.
A rede social é inimiga do consenso e o confronto será sempre o combustível da direita.
E o mundo digital reforça sua vocação de caixa de ressonância da ignorância. Mas tudo isso, claro, ilustrado por vídeos de comida, viagens, memes, stories, reels e sabe lá mais o que, para nos convencer que a atrocidade das narrativas, é só uma ilusão e que a vida, dos outros, é sempre bela.
O terceiro sócio do presidente é mais calado.
Mas nem precisa falar, porque como dono do maior varejo do mundo, em silêncio, é capaz de manipular o preço de qualquer categoria de produto. Não acredita? Então digere essa: a Amazon é responsável por 45% das vendas do eCommerce americano, com um catálogo de 12 milhões de produtos. Se você não entendeu, explico: com a Amazon nas mãos, Trump pode definir o preço do que quiser, à favor ou contra o lobby que bem entender.
Com os quatro sentados do mesmo lado da mesa, o que era um tornado de conflitos agora ganha contornos de furacão.
Como chegamos até aqui? Eu sei.
Essa bagunça começou em 2014, no sete à um contra a Alemanha.
Batata.
Ali pelo quinto ou sexto gol, atravessamos um portal do multiverso, para uma nova dimensão de incompetência humana. Em algum outro Universo existe hoje um planeta onde o Brasil ganhou aquele jogo de 2x1, foi campeão e o mundo segue seu curso em paz.
Aqui não.
Em 2014 fomos aprisionados nessa realidade paralela onde, em 2016, Trump foi eleito. Logo depois, em 2018, brotaram Bolsonaro e sua família disfuncional e cafona, com suas jóias para vender em Miami, rachadinhas e sei lá quantos apartamentos comprados em dinheiro vivo que todo mundo já esqueceu.
Só na nossa versão de universo veio a pandemia, quando o nosso Trumpinho não quis que ficássemos em casa nem nos vacinássemos, por que o país não podia parar.
No outro Universo, do Brasil hexacampeão, 700 mil brasileiros não morreram.
Como Lula é o mais carismático político brasileiro vivo, conseguiu uma fenda de humanidade no espaço-tempo. Mas acredite, já já vai passar, porque a incongruência vem com tudo no ano que vem.
É só conferir, de novo, as redes sociais.
Essa neo-obsessão pelo acúmulo de dinheiro combinada com o teatro das redes sociais nos brindou com o fenômeno dessa geração: os coachs. Esses que tem em Pablo Marçal, sua mais perfeita tradução.
Além dele, milhares de sub-coachs pululam para qualquer assunto. Eles ensinam que para acumular dinheiro, é preciso viver como rico. É preciso “se conectar”. Se conectar, no dicionário de coachuguês, significa pagar para almoçar com um milionário que vai cumprimentá-lo e esquecê-lo antes do fim do aperto de mão.
Mas como o inferno tem subsolo, os coachs se reproduziram. Agora micro-coachs de 15 anos polvilham as redes mostrando como nós, os adultos, fomos inábeis e não conseguimos nosso primeiro milhão antes dos 20 anos.
Falar em jovens, tem também o caçula de Trump, Barron. Trata-se de um idoso de 18 anos, cabelos engomados, nariz ponteagudo e uma curiosa semelhança com Gru, o vilão de Meu Malvado Favorito.
Já Musk, apresentou sua filha, uma jovem com ideias de parecer Amy Winehouse, que atende pela singela alcunha de Tau Techno Mechanicus Musk.
Sério. Que mal fizemos para Darwin? Como explicar tamanha involução?
Por causa daquele maldito 7x1, é isso que o mundo virou: uma sociedade de ídolos medíocres, liderada por limítrofes muitas vezes condenados pela justiça e cujos valores não são morais. São financeiros mesmo.
Há uns 8 anos já se falava de como as redes sociais esgarçaram o tecido moral da sociedade. As redes sociais deram voz à esmagadora maioria ignorante do planeta. Gente incapaz de compreender a própria língua. Gente que pede golpe militar. Gente que quer se armar para combater a violência. Gente que paga para ser enganado. Gente que idolatra criminosos.
Estamos moralmente nus.
Na atual quadra da história, não sobrou tecido moral para ninguém vestir.